(8 Fev 1876 - 24 Jun 1944)
João Silveira Gonçalves, (o “Joca”) nasceu em Porto Alegre no dia 8
de fevereiro de 1876. Era filho de JOÃO SILVEIRA GONÇALVES, o Patriarca dos
atuais Gonçalves, nascido em 1847 e registrado na Igreja de Nossa Senhora do
Rosário (Cat. 1-134 do Arq. Hist. Cúria) e MARIA DAS DORES FERREIRA (MARICA),
cujo casamento ocorreu em 1871 na Igreja N. S. das Dores (Cat. 1-77 Arq. Hist.
Cúria).
Seus avós paternos foram BERNARDO (ou BERNARDINO) DA SILVEIRA
GONÇALVES nascido em 1813 (Cat. 4-109 - Arq. Hist. Cúria) e FIRMINA ROCHA DA
SILVA, naturais de Porto Alegre, cujo casamento ocorreu em 1842 (Cat. 5,66v -
Arq. Hist. Cúria). Por avós maternos teve MANOEL JACOB PEREIRA, natural do
Estado da Bahia e RUFINA MARIA DE LEMOS, cujo casamento pode ter ocorrido ou em
Porto Alegre ou em Triunfo, em data desconhecida.
Foi casado em primeiras núpcias com ERNESTINA AUGUSTA FERREIRA, filha de Vicente Manuel Ferreira e de Idalina Joalma Augusta Ferreira, todos naturais de Porto Alegre. Este casamento foi celebrado na Igreja do Menino Deus, celebrado no dia 28 Dez 1912 (Cat. 3,48 Arq.
Hist. Cúria), Ernestina teve vida efêmera, vindo a falecer logo após, deixando-o viúvo, sem ter tido filhos.
Seu segundo casamento ocorreu no dia 25 de novembro de 1916, na Igreja de N. S. dos
Navegantes (Cat. 2,64 Arq. Hist. Cúria) quando desposou RAMIRA SILVEIRA CAVALHEIRO, que após o casamento passou a assinar-se RAMIRA SILVEIRA CAVALHEIRO GONÇALVES, dando
origem à atual geração dos GONÇALVES. A grande diferença de idade entre ambos
(22 anos - Ramira nasceu em 27 de janeiro de 1898) não impediu que sua vida
conjugal transcorresse sem grandes percalços.
A época, no início do século, é que foi particularmente tumultuosa,
pois o mundo ainda sentia os abalos da Primeira Grande Guerra e o Brasil também
se ressentia daquela catástrofe. Houve ainda as epidemias a nível quase mundial,
que proliferavam e não poupavam nenhuma coletividade. Havia lepra, sífilis,
febre amarela, meningite, tuberculose, recidivas, talvez, das que vinham
abalando a Cidade desde 1874 e das quais João também foi uma das vítimas quase
que em tenra infância. Foram ocorrências que se repetiram em 1902, com a “peste
bubônica” e em 1905, com enorme incidência de varíola. A última dessas
epidemias – a “gripe espanhola” - assolou os porto-alegrenses em 1918 e raras
famílias passaram incólumes. Poucos os indivíduos que não foram, de algum modo,
afetados.
Como as condições sanitárias da época eram precárias, João teve a
visão gravemente comprometida. As duas primeiras filhas - Olga, que viveu três
anos e Maria, que só chegou aos cinco meses - também foram vítimas precoces de
uma guerra que já nasceu perdida. Particularmente sobre este último período, sua
filha, THEREZINHA, conta o que, em
menina, ainda ouvia, tempos depois, falarem sobre o auge da “peste”, como era
chamada a avalanche: eram tantos os mortos que as autoridades sanitárias
mandavam recolher os corpos em carroças e atirá-los em valas comuns, abertas nos
cemitérios.
Mas... era preciso viver. E, se isto não fosse possível, sobreviver
já seria uma grande vitória. É em ocasiões assim que a fibra dos homens se
revela. E são homens assim, feitos de sangue, fibra e aço envolvendo um
espírito guerreiro, que conseguem legar à posteridade os exemplos fé, de
perseverança e de idealismo. Que deixam à sua posteridade um patrimônio
imensurável que ela tem o dever de preservar. Pois João, no meio daquela
tragédia, casado há pouco com Ramira – em torno de dois anos - trabalhava
arduamente para sustentar a sua casa. E à noite frequentava uma escola próxima,
e depois em casa, com a visão deficiente, estudava e lia para se ilustrar, mesmo
à luz de velas, pois a eletricidade era restrita.
Entre 1939 e 1944, ano este em que faleceu, o mundo explodia, outra
vez, em guerra. E João, Agente Ferroviário da Viação Férrea do Rio Grande do
Sul, já combalido fisicamente mas de espírito pleno de luz, acordava cedo e ia do
Menino Deus, onde morava, até o Centro, e dali, à Estação Navegantes, para
cumprir a sua jornada de trabalho. Para cumprir este trajeto, que durava cerca
de uma hora e meia, utilizava dois bondes. E o ritual se repetia, rigorosa e
pontualmente, inclusive nas noites que lhe cabia pela escala, houvesse neblina,
chuva ou frio. O Homem era mais forte que as intempéries e este era o seu
Dever.
Doenças e dificuldades de toda sorte não o impediram de ser pai de
uma grande prole (onze filhos, no total, sendo sete homens – José, Gabriel,
Cláudio, Luís, Antonio, Adroaldo e Fernando e quatro mulheres: Olga, Maria, Eva
e Therezinha). E testemunham seus filhos, até hoje, que João foi um grande pai!
Amoroso, cuidadoso, responsável, jamais deixou faltar, ao menos, o carinho e o mínimo
material necessário, já que o supérfluo, nas condições então existentes, era
impossível.
Viúvo pela segunda vez – Ramira faleceu um ano antes dele, no dia
30 de agosto de 1943 – João viveu até o dia 24 de junho de 1944, chegando à idade
de 68 anos.
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JOÃO SILVEIRA GONÇALVES é sempre lembrado com carinho e respeito
por tudo o que representou para a sua descendência.
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